Economia

Ricardo Eletro e Insinuante unem operações

O presidente da Insinuante, Luiz Carlos Batista (à esquerda), abraça Ricardo Nunes, dono da Ricardo Eletro Foto Michel Filho
O presidente da Insinuante, Luiz Carlos Batista (à esquerda), abraça Ricardo Nunes, dono da Ricardo Eletro Foto Michel Filho

SÃO PAULO - A rede de varejo baiana Insinuante e mineira Ricardo Eletro anunciaram nesta segunda-feira a união de suas operações, na holding Máquina de Vendas, segunda maior varejista de móveis e eletrodomésticos do país, com mais de 520 lojas. A união acontece alguns meses após o grupo Pão de Açúcar, líder no varejo do país, ter fechado acordo de compra das Casas Bahia, criando uma rede com pouco mais de mil lojas, líder no mercado.

Embora a Máquina de Vendas ainda esteja muito longe do grupo formado por Ponto Frio, Casas Bahias e Extra Eletro, tanto em número de lojas, quanto em faturamento anual estimado, que é de 5 bilhões para a primeira em 2010 contra R$ 20 bilhões do segundo, a nova holding tem planos ambiciosos.

Durante o anúncio oficial da fusão da Ricardo Eletro com a Insinuante, os executivos das duas empresas afirmaram ainda que estão atrás de novas redes para compra ou fusão. Segundo Luiz Carlos Batista, presidente da Insinuante e agora presidente do conselho da Máquina de Vendas, o mercado caminha para um processo natural de consolidação, em que as pequenas redes regionais terão cada vez menos poder de barganha.

- Esses empresários vão ficar mais confortáveis com a gente - afirmou Batista.

Pouco antes do anúncio oficial, Ricardo Nunes, que vai ficar à frente da nova holding, falou ao blog de Míriam Leitão que a ideia é manter as duas marcas e os 15 mil empregos em questão. Luis Carlos Batista, da Insinuante, ficará no Conselho de Administração.

Leia mais da entrevista do presidente da Ricardo Eletro no blog da Míriam Leitão.

De acordo com Ricardo Nunes, a nova gigante do varejo já nasce com R$ 5,2 bilhões de faturamento e 528 lojas espalhadas por 200 cidades de 16 estados, além do Distrito federal. Com isso, supera a Magazine Luiza, a segunda do ranking, com 455 lojas e faturamento anual de R$ 3,2 bilhões.

- Estamos criando a segunda maior rede varejista do país, e a maior em capilaridade e alcance geográfico - disse.

- Fizemos uma fusão onde não houve dinheiro envolvido, mantendo, assim, nosso caixa forte e sem endividamento. As duas tinham mais ou menos o mesmo tamanho. Como vamos precisar de muita gente, não fecharemos lojas. A partir de amanhã, seremos a maior rede de distribuição, presente em 17 estados - acrescentou. Negociações começaram em janeiro

A previsão neste ano é abrir entre 30 e 50 novos pontos de vendas, dos quais 30 no Rio. Neste caso, o crescimento será com a abertura própria de lojas.

- Depois disso, em 2011, o crescimento virá com fusões e compras - acrescentou ele.

As duas companhias, que têm capital fechado, não revelam informações sobre endividamento e geração de caixa. Mas garantem que a nova companhia nasceu "com caixa e sem dívidas".

- Essas são informações estratégicas. É nossa vantagem em relação aos concorrentes com capital aberto - disse Ricardo Nunes.

As negociações tiveram início em janeiro, por iniciativa de Nunes. Do início do namoro, em janeiro, até o casamento, foram menos de três meses. Até um flat no bairro Itaim, em São Paulo, foi alugado para servir de base para os encontros entre Luiz Carlos Batista, da Insinuante, e Ricardo Nunes, da Ricardo Eletro, na reta final das negociações.

- Só não dormimos juntos. Até a minha mulher ficou com ciúmes - brincou Nunes, que também emprestou sua chácara em Divinópolis (MG) para as conversas, quando não estava ainda no apartamento de Batista em Salvador (BA).

- Fizemos a coisa toda no maior silêncio. Eu ia buscá-lo à noite, para não despertar a curiosidade das pessoas - contou o controlador da Insinuante.

Comum em operações do gênero, a fusão de Insinuante e Ricardo Eletro não teve a assessoria de nenhum banco de investimento ou butique de negócios.

A Price foi contratada para avaliar o balanço da duas companhias. As marcas Insinuante e Ricardo Eletro serão mantidas. A primeira continuará a ser usada nas regiões Norte e Nordeste do país, enquanto Ricardo Eletro vai batizar os pontos de venda nas demais regiões. O grande desafio, admitem os empresários, será o mercado paulista.

- É um mercado difícil e complicado, e nossa estratégia passa necessariamente pela compra de outras redes no prazo de um ano - disse Batista.

Ainda segundo ele, nos próximos três meses deverão ser definidos pontos ainda em aberto durante a negociação, como a escolha de uma sede comum para a Máquina de Vendas e de um diretor financeiro único. Expectativa de dobrar de tamanho até a Copa 2014

Até a Copa de 2014, o presidente da nova holding do varejo espera multiplicar os números, chegando a mil lojas, R$ 10 bilhões de faturamento e 30 mil empregos, aproximando-se do Pão de Açúcar. Enquanto as lojas da Insinuante vão operar nas regiões Norte e Nordeste, onde são mais fortes, a Ricardo Eletro focará o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Segundo Ricardo Nunes, o consumidor pode esperar preço baixo e condições facilitadas de pagamento.

A Ricardo Eletro foi fundada em 1989 e tem cerca de 260 lojas nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Goiás e Distrito Federal, dividas em lojas de rua, shopping e megastore. A companhia tem cinco centros de distribuição.

Enquanto isso, a Insinuante começou a operar em 1959 e atualmente possui aproximadamente 220 lojas, em todos Estados do Nordeste mais Rio de Janeiro e Espírito Santo. Em 2009, focada em crescer, chegou a apresentar uma proposta de compra do Ponto Frio, que acabou sendo levado também pelo Pão de Açúcar.

Em dezembro, quando a compra da Casas Bahia pelo grupo Pão de Açúcar foi anunciada, especialistas já previam que abriria um novo ciclo de consolidação no setor de móveis e eletrodomésticos. Entretanto, apostavam mais em anúncio de fusão das redes Lojas Americanas e Magazine Luiza. A primeira empresa tem planos de chegar a 876 lojas nos próximos quatro anos.