• Redação Galileu
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Sorte vale mais que talento na hora de ganhar dinheiro.  (Foto: Creative Commons / Saint Angel)

Sorte vale mais que talento na hora de ganhar dinheiro. (Foto: Creative Commons / Saint Angel)

Ainda tem gente que acredita que a meritocracia é o melhor caminho, embora a ciência já ter dado argumentos suficientes para afirmar que ela só contribui para a desigualdade. Um novo estudo, porém, buscou entender como funciona a meritocracia na prática, ao analisar a relação entre as qualidades do ser humano — como talento, inteligência, empenho e trabalho duro — com o nível de sucesso, que em nossa sociedade é medido pelos bens materiais.

De acordo com dados do banco Credit Suisse, 42 pessoas detêm a mesma riqueza que os 3,6 bilhões mais pobres. Mas, se para algumas pessoas, esses 42 mais ricos são melhores do que a parcela mais pobre, um grupo de pesquisadores liderados por Alessandro Pluchino, da Universidade de Catania, na Itália, resolveu colocar o computador para examinar essa diferença.

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Fatores como inteligência ou disposição para o trabalho pesado seguem médias normais, com apenas algum desvio padrão. Isso quer dizer que uma pessoa pode ser mais alta do que a outra, mas não pode ser um milhão de vezes mais alta. Ou ainda: uma pessoa pode trabalhar mais pesado do que outra, mas existe um limite de horas que podem ser trabalhadas.

O computador foi programado para reproduzir um modelo que representa um indivíduo por 40 anos de sua vida ativa. Eles foram categorizados com diferentes níveis de inteligência, talento, habilidade, etc. e, durante esse tempo, experimentaram eventos aleatórios de sorte, que podem ser explorados para aumentar a riqueza se for talentoso o bastante, e de má-sorte, que podem reduzir a riqueza. A simulação foi, então, repetida diversas vezes.

Ao final, ranquearam os indivíduos pela riqueza. O resultado foi semelhante ao observado no mundo real. "80% da população detêm 20% do capital total, enquanto os outros 20% detêm os 80% do mesmo capital”, afirma a publicação.

A questão é: será que esses 20% do topo eram, de fato, mais talentosos? A pesquisa garante que não. O indivíduo mais rico tipicamente não é o mais talentoso, nem perto disso. “Quase nunca a pessoa mais talentosa atinge o pico do sucesso, sendo superada pelos indivíduos medíocres, mas sensivelmente mais sortudos.”

Os pesquisadores ranquearam os indivíduos de acordo com o número de eventos de sorte e má-sorte. “Ficou evidente que os mais bem-sucedidos são também os mais sortudos”, conta. “E os malsucedidos são os menos sortudos.”

Descobridores
Além de questionar a meritocracia, a pesquisa de Pluchino tem objetivos mais práticos. Ela visa responder uma questão cada vez mais em voga na comunidade científica: a serendipidade, que são descobertas científicas realizadas por sorte.

Ao definir o quanto elas contribuem para a ciência em geral, é possível buscar maximizar os investimentos em pesquisa.

Para isso, estudaram três modelos de financiamento. Em um, distribuem a verba de forma igual entre todos os cientistas; no segundo, distribuem de forma aleatória entre uma parcela dos cientistas; no último, deram preferência aos que já haviam realizado descobertas científicas antes.

Como resultado, observaram que quem já fez uma descoberta na vida não tem mais chances de fazer outra no futuro. Assim, a forma mais eficiente de dividir os fundos era dividir a quantia igualmente entre todos.

De acordo com a publicação, a lógica pode ser levada para outras áreas. Seria mais vantajoso para um chefe investir em todos os seus funcionários, por exemplo, do que em apostar sempre nos mesmos — por mais que já tenham obtido sucesso anteriormente.

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